sexta-feira, setembro 19, 2008

Nucleo de Caminhadas na Imprensa (Noticias da Covilhã)


Na rota dos mineiros da Panasqueira

O Núcleo de Caminhadas da Casa do Povo de Casegas, não tem parado de promover actividades pedestres que para além das boas práticas físicas, visa preservar a história, assumir uma vertente lúdica e cultural. São exemplo as caminhadas pelas rotas dos Ganhões, Almocreves, Pastores, Arqueológica, entre outras. Agora é vez dos caminheiros lançarem-se no dia 28 de Setembro, na rota dos mineiros da Panasqueira.

<No imaginário de famílias inteiras das povoações mais próximas das Minas da Panasqueira, a figura do mineiro está associado ao conceito de heróis do trabalho, autênticas toupeiras humanas que furaram e esventraram a serra do Chiqueiro e o Cabeço do Pião, território situado na zona limítrofe dos concelhos da Pampilhosa da Serra, Covilhã e Fundão.
“Quase todos os trabalhadores deslocavam-se diariamente. Faziam à volta de 20 quilómetros diários, ou mais, ida e volta. Por vezes, no regresso, ainda iam "dar uma mão" no amanho das terras, ajudando nas épocas das sementeiras ou colheitas quando o trabalho da mulher e dos filhos não era suficiente. Os de terras mais longínquas deslocavam-se semanalmente. Ao sábado regressavam à aldeia, faziam as suas tarefas agrícolas, assistiam à missa do Domingo e na segunda-feira de madrugada lá regressavam à Mina. Outros fixaram-se definitivamente na zona de exploração, constituindo as novas povoações da Panasqueira, Rio e Barroca Grande com muitos outros que vinham do Alentejo, Trás-os-Montes e Minho e que por cá ficaram”. Esclarece Casimiro Santos, professor de história, um dos dinamizadores destas caminhadas que de seguida acrescenta,” a mina permitiu manter muita população com um emprego bastante estável nas povoações mais próximas e, com uma certa complementaridade da pequena agricultura, algum desenvolvimento económico-social e um nível de vida aceitável para uma zona rural como a nossa. Mas isso tinha um preço elevado: as condições de trabalho eram terríveis”. Asseverou este caminheiro.
Enterrados vivos
De facto, a somar à própria natureza da tarefa, ao local onde era exercida e aos terríveis perigos de acidentes, havia a doença profissional: a silicose, provocada pela inalação do pó da pedra. Esta doença é incurável e consiste numa lesão permanente do pulmão provocada pela sílica da rocha, presente nas poeiras. Mais tarde ou mais cedo, dependendo de vários factores, a morte era uma sina precoce. Muito raros eram os mineiros que ultrapassavam os cinquenta anos. Nestas aldeias, as mulheres ficavam viúvas muito cedo. No concelho da Covilhã, S. Jorge da Beira era conhecida como a terra das viúvas. Viuvez e orfandade com o seu cortejo de miséria, mitigada pela solidariedade e pelo trabalho de todos nas pequenas courelas de magra terra. Mal dava para a "côdea". Logo que possível, a emigração para Lisboa ou para o estrangeiro. Ou, por atávica herança, a mina, outra vez.
Logo após o 25 de Abril, quando a reivindicação e a força dos trabalhadores eram maiores, os mineiros da Panasqueira tinham dos melhores salários do operariado a nível nacional e eram uma influente força social. Nessa altura a exploração mineira estava em alta. A decadência começou nos anos oitenta, quando as crises cíclicas dos mercados e a desvalorização do volfrâmio, pela concorrência internacional, foram reduzindo as efectivos e enfraquecendo a exploração mineira. Hoje, as Minas ainda laboram. Têm cerca de duzentos mineiros, mas a crise é uma ameaça permanente. Mitigada pelas guerras que no mundo se vão dando.
É com o objectivo de reviver-se a história de muitas pequenas histórias de vida de gentes mineiras, marcadas e condicionadas pela mina e calcorrear-se os trilhos que utilizavam até lá chegarem, que no dia 28 de Setembro/08, o Núcleo de Caminhadas da Casa do Povo do Paul, leva a efeito a “ Caminhada na Rota dos Mineiros”.
Caminhar e homenagear
Quanto ao percurso dos mineiros entre Casegas e as Minas da Panasqueira, atravessa cerca de uma dezena de quilómetros de colinas mais ou menos suaves e encostas íngremes, numa subida que vai dos quatrocentos metros até aos setecentos na Barroca Grande e na Panasqueira. O Cabeço do Pião situa-se mais ou menos na mesma cota de Casegas, os quatrocentos metros. Qualquer destes locais foi durante décadas o destino de muitos caseguenses e outros de aldeias vizinhas que ali encontravam o trabalho para o sustento das suas famílias.
Importará dar conta que foi um caseguense, o “Pescão”, quem descobriu o potencial económico da Panasqueira, iniciou a exploração, inicialmente apenas de estanho e cobre e vendeu a mina ao banqueiro Burnay que, por sua vez, igualmente a vendeu aos ingleses da Beralt Tin & Wolfram. Estes, após a I Guerra Mundial começaram a extracção do volfrâmio.
Por isso, a Rota dos Mineiros, que tal como todas as outras prossegue na senda do objectivo do núcleo que não é só caminhar por caminhar, mas sim através dum desporto salutar, transmitir a cultura e hábitos e tradições do povo, bem como, desfrutar de paisagens que apesar de estarem tão perto são desconhecidas por muitos, e particularmente, fazer desta caminhada uma singela homenagem a todos os que trabalharam nas minas e que ainda lá prestam serviço.
Para quem quiser participar nesta caminhada pode inscrever-se no e-mail: cpcasegas.caminhadas@gmail.com ou pelo nº 938524865 - Luciano.>>
in Inforpaulense

Os nossos agradecimentos ao João Cunha, um amigo sempre alerta.